Independência gaúcha: 11 de setembro eclodia o primeiro grito republicano em solo austro-brasileiro

Há 187 anos a primeira brigada de cavalaria Rio-grandense, liderada pelo coronel Antônio de Souza Netto, que então passou a posto de general proclamava a República Rio-Grandense em 11 de setembro de 1836, tal dia constitui um marco de relevância singular na crônica histórica do Estado do Rio Grande do Sul e, por extensão, do Brasil. Este evento de elevada significância não somente celebrou a busca pela autonomia regional, mas também reverberou os ideais de liberdade e igualdade que se originaram nas raízes libertarias da Revolução Farroupilha, um movimento que, para além da sua luta pela independência, acolheu prematuramente a nobre causa abolicionista.
A Revolução Farroupilha, desdobrada no período compreendido entre 1835 e 1845, ergueu-se como uma das preeminentes manifestações da aspiração popular a uma república democrática no Brasil, assaz antecedendo a Proclamação da República em âmbito nacional, em 1889. Inspirados pelos pilares de liberdade e igualdade, os farrapos batalharam com denodo em face do centralismo imperial e da opressão. Nesse contexto, não se limitaram à mera retórica do preço do charque; antes, assumiram um pioneirismo notório ao abraçar com afinco a causa abolicionista, manifestando inequívoca condenação à instituição escravista e uma decidida busca pela emancipação dos cativos.
A luta abolicionista no seio da Revolução Farroupilha transcendeu o plano das palavras, manifestando-se em ações práticas que visavam efetivar a liberdade dos escravizados. Os líderes farroupilhas, entre os quais destacam-se figuras notáveis como Bento Gonçalves e Giuseppe Garibaldi, proclamaram que qualquer escravo que se unisse à causa farroupilha seria prontamente alforriado. Tal compromisso exerceu um atrativo irresistível, atraindo um contingente significativo para a luta em prol da independência e da abolição da escravidão.
A Proclamação da República Rio-Grandense, que se materializou em 11 de setembro de 1836, representou um momento culminante no intento de erigir um sistema de governo calcado na autodeterminação e em princípios democráticos. Este feito consagrou as aspirações regionais e constituí um passo decisivo na trilha da construção de uma república norteada por valores de equidade e justiça.
Estes episódios históricos, a Revolução Farroupilha e a Proclamação da República Rio-Grandense, legaram uma herança perene. Eles atestam que o Rio Grande do Sul sempre se destacou como vanguardista de sua época, abraçando os ideais de liberdade, igualdade e justiça. Ademais, a precocidade com que os farrapos se comprometeram com a causa abolicionista contribuiu para pavimentar o caminho que culminaria, em âmbito nacional, com o desfecho da escravidão em 1888, mediante a promulgação da Lei Áurea.
Nossos dias contemporâneos devem reverenciar e celebrar esses eventos como componentes indissociáveis da história do Rio Grande do Sul e do Brasil, em reconhecimento ao espírito de destemor e ao compromisso inquebrantável daqueles que precederam nossa geração. A Proclamação da República Rio-Grandense emerge como uma lembrança incontestável de que a busca incessante por liberdade e igualdade constitui uma jornada perene, e, a todo momento, devemos nos inspirar na coragem e na dedicação daqueles que desbravaram o caminho na direção de um porvir mais justo e inclusivo.
Por Guilherme Fernández