Governo do povo versus democracia liberal

Governo do povo versus democracia liberal

Por Por Bruno Thiesen

Na democracia liberal, os cidadãos elegem representantes que, em teoria, têm a função de representá-los à frente dos poderes executivo e legislativos. É o que chamam de democracia indireta. No entanto, na prática, o próprio processo de eleição desses representantes já é bastante injusto, dando mais chances para aqueles candidatos que, por conta própria ou através de patrocínio, tenham maior poder econômico para bancar as caras campanhas eleitorais. O próprio processo eleitoral se encarrega de dar vantagens para os candidatos alinhados ao poder econômico nacional ou estrangeiro. Portanto, antes mesmo de eleitos, os representantes já são cooptados para atender aos interesses pessoais de uma minoria privilegiada. Após eleitos, esse processo apenas se aprofunda, desde a atuação de lobistas até mesmo em relação ao distanciamento geográfico e social entre o representante e a população. O resultado disso é um estado corrupto, ineficaz, injusto e completamente desalinhado com os interesses do povo. Um estado que serve aos interesses do capital!

Observando essa dramática situação, muitos líderes na história tentaram contrapor esse modelo corrupto com o objetivo de deixar o estado mais próximo das necessidades e ambições do povo. Na maioria dessas tentativas, a ideia foi centralizar e concentrar o poder nas mãos de um único líder ou partido, que tomava para si a responsabilidade de atuar a favor do povo. Por mais nobres que fossem as intenções, por mais que em alguns casos funcionasse no começo, o sistema sempre acabava por se tornar corrupto e ineficiente, muitas vezes voltando-se contra o próprio povo que inicialmente o movimento revolucionário local tinha por objetivo libertar. Na URSS, a revolução de 1917 derrubou a burguesia e a monarquia e instaurou a ditadura do proletariado. Porém, o regime que tinha por objetivo empoderar o povo e superar as classes sociais acabou por criar uma elite tirana que atuava de maneira injusta e violenta para manter seus privilégios, se distanciando cada vez mais do povo.

Portanto, fica evidente que tanto no sistema democrático quanto em sistemas autoritários/totalitários, o povo é subjulgado e maltratado, servindo como mero coadjuvante ou objeto de exploração de quem detém o controle do estado. Observamos que os problemas relacionados às teorias políticas dominantes na história não são meramente econômicos, mas principalmente de ordem estrutural. Muito disso tem por origem a natureza utópica das teorias políticas, que se preocupam mais em idealizar um mundo ideal do que em trabalhar com base na realidade. O resultado são teorias impraticáveis e deficientes.

Tendo conhecimento desses males que acometem o planeta Terra, optamos por não compactuar com nenhum dos modelos descritos. Defendemos um modelo mais justo e próximo do povo, um modelo que não terceiriza as ambições populares seja na figura de um representante, líder ou partido. A Laocracia, do grego Laocratia, que significa governo do povo, em contrapartida à democracia, que tem um significado mais relacionado ao governo dos cidadãos. Cidadãos esses que, na Grécia antiga, que deu origem ao termo e ao sistema, eram representados pela elite social local. A Laocracia estende a abrangência da representatividade para o conjunto de diversidade que é o povo. Modelos semelhantes à Laocracia foram observados na Líbia de Khadafi e atualmente são o sistema vigente na República Popular de Lugansk.

A Laocracia pode ser comparada ao conceito ocidental de democracia direta, com a formação de assembleias populares e plebiscitos, que descentraliza o poder, colocando-o diretamente nas mãos do povo, dificultando ou até mesmo impossibilitando a atuação de lobistas, corrupção ou que as decisões sejam tomadas para privilegiar algum grupo específico. As assembleias populares precisam ser abertas a quem quiser participar para evitar que a burocracia as transforme em focos de concentração de poder.

As assembleias populares e os plebiscitos devem substituir o poder legislativo e o judiciário em algum nível, havendo ainda a necessidade de um poder executivo mais sólido para colocar em prática as determinações do povo, um poder executivo que também pode seguir uma lógica popular, talvez não tão segura quanto o legislativo, mas certamente mais popular do que os sistemas atualmente predominantes.

– Este texto teve como fonte de inspiração escritos de Alexander Dugin, o Livro Verde de Muammar Khadafi, além de pesquisa própria.

Nota: No marco da Quarta Teoria Política, quem deve governar é o Povo – do russo Narod, semelhante ao Volk alemão (não é a mesma coisa que “população”). Os Estados-nações modernos situam-se no plano do capitalismo. Logo, as nações modernas são governadas por capitalistas e, portanto, não pelo Narod. Para construir uma pátria na qual governará o Narod, é necessário concretizar uma revolução anticapitalista (anti-oligárquica, ao menos): magnatas financeiros deveriam ser excluídos do poder político (e isso é o central).

Guilherme Fernandes

Guilherme Fernandes

índio gaúcho e vice-presidente da Resistência Sulista

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