Hegemonía: Capturar o código cultural

Por Alexander Dugin
Uma rede entrincheirada de hegemonia e seus operadores está operando muito abertamente em nossa sociedade.
Os líderes da Rússia e da China criticam diretamente a hegemonia do Ocidente. Deve-se lembrar que Antonio Gramsci, que construiu a teoria moderna da hegemonia, entendeu por “hegemonia” não tanto a ditadura política direta de alguns países sobre outros quanto a criação de uma rede controlada a partir do centro de hegemonia que permeia todas as sociedades. , contornando facilmente fronteiras e restrições. Esta rede é criada sobretudo no campo da cultura, da ciência, da educação e da informação, ou seja, envolve em primeiro lugar a sociedade civil. A introdução de um modelo econômico único (capitalismo) nas sociedades controladas pelos hegemônicos também é um elemento essencial da hegemonia, mas o principal é a captura do código cultural e da educação.
Nos últimos 30 anos, a hegemonia nesse sentido só cresceu na Rússia. E não é apenas uma questão de dependência de importações. O liberalismo conseguiu estabelecer um controle quase total sobre a mentalidade dos russos, por meio da educação, cultura, ciência e redes sociais. E é revelador que essa hegemonia tenha se fortalecido mesmo quando as políticas de Putin se tornaram cada vez mais soberanas. O domínio dos liberais na cultura compensou o crescimento da soberania na política. As autoridades, por enquanto, não perceberam. E assim foram criadas todas as condições para a expansão e consolidação da hegemonia.
Um exemplo marcante. Há 23 anos, o país é governado por um líder abertamente e consistentemente realista em Relações Internacionais (RI). Isso não se reflete em nenhum livro didático do MGIMO, que continua a ser dominado pelo paradigma liberal em DoM. Tentativas – mesmo as mais cautelosas – de mudar esse estado de coisas são imediatamente tratadas da maneira mais dura possível.
Uma rede profundamente arraigada de hegemonia e seus operadores operam abertamente em nossa sociedade. Eles jogam o jogo longo, contando com a possibilidade de que um dia haverá uma mudança no rumo político e então uma sociedade civil composta por eles, orientada para os códigos e princípios ocidentais, também se manifestará na política.
A China também enfrenta um perigo semelhante, mas um grupo dedicado (numericamente enorme) de potências do Comitê Central do PCCh trabalha incansavelmente para neutralizá-lo. Em nosso país, praticamente ninguém presta atenção nisso. E isso é assunto do Conselho de Segurança e da liderança política em geral.
A hegemonia não é apenas um conceito externo, mas também interno. Essa é, segundo Gramsci, sua força. E a soberania política por si só não é suficiente para se opor a ela. O que é necessário é um modelo ideológico alternativo claro, ou seja, uma contra-hegemonia.
Tradução de Guilherme Fernandes
Fonte: https://www.geopolitika.ru/es/article/hegemonia-capturar-el-codigo-cultural