A Hegemonia

Por Alexandre Bovdonov
Tradução Guilherme Fernandes
A palavra hegemonia vem do antigo grego ἡγεμονία que significa liderança ou direção. Os gregos costumavam usar essa palavra para falar daquela polis que tinha predominância dentro de uma coalizão de “cidade-estados” aliados. Por outro lado, Tucídides contrastou a “hegemonia”, ou seja, governo baseado no consentimento dos outros, ao poder baseado na opressão ou ἀρχή (arco). Os gregos chamavam o Império Persa de ἀρχή, pois o consideravam um sistema de governo baseado na força e suborno e que constantemente usava força militar para suprimir aqueles que se opunham a ele.
Em vez disso, a hegemonia reconheceu que era o χάρις (charis) – misericórdia, generosidade, dom – a fonte de todo o poder e subordinação (daí o termo “carisma”). Hoje estamos vendo como a hegemonia se transforma em arco, já que a hegemonia atual não tem outra maneira de preservar seu sistema político, cultural, de estilo de vida e liderança, mas através do uso da força.
No entanto, é interessante que Antonio Gramsci tenha entendido o problema da hegemonia de forma muito semelhante aos gregos, uma vez que considerou que a dominação dos outros é indireta e se baseia no “senso comum”, que é uma forma de construção social que subordina indivíduos e grupos sociais a um determinado programa. Isso nos leva a concluir que a mudança de uma hegemonia ocidental baseada no domínio do “bom senso” para um uso ilimitado da força significa que esse sistema entrou em crise: a democracia global está rapidamente se tornando uma tirania global.