Felipe Rotta: Inteligência e símbolo

“Só precisamos viajar o suficiente para arejar nosso intelecto.” (Henry David Thoreau)
É comum nos dias atuais tal dualidade entre a casta bárbara daqueles que lutam contra a Verdade e tais inocentes que tanto almejam a mesma através d’um despreparo colossal nutrida por um intelectualismo burlesco e sua roupagem refinada, algo que é notório por suas fábulas desesperadas em moldar uma nova vida intelectual, arrastando e contaminando muitos outros da mesma estirpe ao seu vil caminho.
Nada mais inocente — ou maldoso, dependendo do grau de malícia daqueles que se deixam levar pela corrente — que pedir quaisquer provas de que a grama é verde, assim como explicar de todos os sentidos e por quaisquer meios necessários o porquê dela ser assim, desconsiderando totalmente a noção mínima da palavra “evidência”. O (pseudo)conhecimento alimentado por ambos os lados do tabuleiro nada mais são do que a excelência do quão decadente o Ocidente e as Universidades se tornaram. Certo, por outro lado, existem as pessoas de bom grado que buscam confrontar esse tipo de maniqueísmo intelectual através do debate; como se diz, de boas intenções o inferno está cheio. Definitivamente não há qualquer esperança em moldar a cosmovisão de ambos os grupos com qualquer debate. Nos dias atuais, o debate é a pior opção; aceitar debater implica, de fato, aceitar o molde do oponente na discussão. Em outras palavras, discutir se a grama é verde, já implica na premissa de que isso é algo que possui por si só é questionável, beirando o delírio.
O debate é a arma usada pelos ditos “civilizados”, um romance, uma deidade, um estandarte do rigor científico decadente dos nossos dias atuais. Aceitar debater é admitir que perdeu.
A inteligência em sua forma profunda não se trata de uma mesa redonda de faculdade, mas a elevação da capacidade de abstração em seus mais diversos estágios, principalmente nos mais simples no que diz respeito aos nossos sentidos. A inteligência está intimamente ligada com o exercício ascético; a mera observação do nosso mundo ao redor e sua equação quanto um significado maior de suas partes numa unidade é o início de qualquer noção de inteligência e conhecimento. É, de fato, impossível vivenciar o mundo caso ele se encaixasse no pensamento acadêmico contemporâneo.
A essência das coisas se perde, criando um mundo sem deuses em prol da categorização liberal do pensamento individualista, que constitui o homem como um ente a par do cosmos, tornando obsoleta qualquer experiência digna de humanidade.
“Quando a vida é apenas decepção
E nada é aprazível
Aquela caçada selvagem
Pela solidão
É uma vida sem Deus
É um fim sem amor
Desalmado hoje
E desalmado amanhã…” (Death in June, But, What Ends When The Symbols Shatter)
O vento que bate no mato rasteiro das campinas, o raiar do alvorecer, a flora que nutre o solo, o cervo que bebe água da margem, a geada que cobre as planícies com seu manto e o pássaro que ecoa seu canto entre a floresta; grandes manifestações divinas que se apresentam em símbolos para nós, como uma manifestação de algo muito maior e mais glorioso.
O homem não conhece a si mesmo e ao seu redor senão pela abstração dos símbolos recorrentes de sua experiência. A realidade é que a Industrialização, o Positivismo e as demais ideologias da Modernidade não buscaram o conhecimento mais íntimo que seus antecessores, mas trataram de destroçar o Símbolo e quaisquer significados que suas manifestações possuam. O homem que enxerga uma simples flor e não é capaz de ver nela o seu atributo divino como parte integrante da totalidade do Cosmos (e na qual o homem também participa!) já é um homem morto; quando o espírito morre, o corpo adoece.
Nada mais vil que buscar debates ou soluções excessivamente pragmáticas para o mundo atual, o desafio para buscarmos a perfeição é retomando nossa capacidade de abstrair os símbolos rumo a sua essência divina. Nenhuma cosmovisão moderna irá parar a modernidade, nenhuma ideologia que visa destruí-la o fará de fato, afinal, não se trata de destruir e/ou retomar o passado através da história, mas de transcender o próprio fim da história, algo que a antinatural visão pacifista e apática de nossa época evita a todo custo.