Eleições francesas: Pessoas dizem “Não”, elites dizem “Sim” a Macron

Eleições francesas: Pessoas dizem “Não”, elites dizem “Sim” a Macron

Por Daria Platonova

Tradução Guilherme Fernandes

No segundo turno, Emmanuel Macron obteve 58,55% dos votos (resultados fornecidos pelo Ministério do Interior francês após processar 100% das cédulas). A primeira noite após a eleição do presidente para um segundo mandato já foi marcada por protestos em larga escala contra o “macronismo” e o liberalismo. Os coletes amarelos, a esquerda e a direita saíram às ruas. Putou, o líder do partido anticapitalista, pediu a expulsão de Macron. E os líderes da oposição (Le Pen, Zemmour, Melanchon), cujo eleitorado combinado excede 50% da população francesa, disseram que as eleições não acabaram, e que o terceiro turno será as eleições legislativas a serem realizadas em junho. Macron corre o risco de não conseguir uma maioria parlamentar. Isso é em grande parte influenciado por sua política fracassada de cinco anos, apelidada de “macronismo”, que levou o partido de Macron a não vencer nenhuma das 13 regiões nas eleições regionais de 2021.

Que os próximos anos serão turbulentos também foi apontado pelo próprio presidente recém-eleito. “Um segundo mandato não será turbulento, mas será histórico para a França”, disse Macron, falando em um comício de vitória. É provável que a França enfrente um período de instabilidade, e a página foi aberta para um mandato mais desafiador de cinco anos (ou até sete, caso a reforma constitucional de Macron prorrogue o mandato presidencial). O país está entrando em um período de turbulência política e os slogans dos protestos de ontem com a palavra “Revolução” sugerem possíveis mudanças radicais por vir.

Ao mesmo tempo, surgiram três grandes blocos políticos, dois dos quais representam os interesses do povo (Le Pen e Melanchon) e um, Macron, os interesses das elites transnacionais orientadas para uma agenda globalista. O resultado de Le Pen é realmente impressionante: em comparação com 2017 (quando a diferença foi de 33%), o quadro atual mostra que suas teses (crítica à imigração, OTAN, globalismo, capitalismo) refletem a vontade de metade da França.

O think tank francês Strategika ressalta que “as situações das eleições presidenciais de 2017 e 2022 são muito diferentes. Em 2017, houve um confronto entre o candidato Macron, apresentado na época por toda a mídia e pelo sistema político como “novo”, contra Marine Le Pen, que de certa forma carregava o “peso” do passado (do partido). Havia uma ilusão de que o mundo político aguçado, contra o qual Macron se posicionou como uma falsa novidade e sem precedentes, de repente explodiria e resolveria décadas de problemas acumulados.” No entanto, segundo o autor, em 2022 a situação mudou radicalmente: “Em 2022, outro Macron apareceu, com uma enorme crise econômica sob seu cinturão e políticas neoliberais que afetaram negativamente o povo francês e a coesão social do país, bem como uma série de fracassos na política interna e externa, incluindo:

– a sangrenta repressão dos “coletes amarelos”;
– gestão autoritária e inadequada da crise da saúde (“covidismo”);
– o declínio da democracia e da liberdade de expressão no país;
– o agravamento da situação migratória no país (um episódio recente muito simbólico do estado de guerra civil progressista da França foi o assassinato do militante nacionalista corso Ivan Colonna na prisão pelas mãos de um jihadista. Sem mencionar a hipótese da possível execução do contrato de homicídio);
– fracasso no Mali e perda de influência no continente africano;
– o cancelamento de contratos submarinos com a Austrália;
– o fracasso do processo de paz entre Moscou e Kiev.”

A credibilidade de Macron também foi abalada por um grande caso McKinsey: “Macron efetivamente submeteu o país a um escrutínio externo: o Senado francês descobriu que a França está perdendo sua soberania na esfera legislativa”.

Startegika ressalta que “além do aumento da popularidade de Marine Le Pen (também causada pela presença em seu projeto de uma série de elementos da política socioeconômica: pensão aos 60 anos, redução de impostos, atenção ao poder aquisitivo, etc.), houve um fortalecimento da posição do político de esquerda Jean-Luc Melanchon. O que os dois candidatos têm em comum é que eles se concentram mais em estratégias para resolver a atual crise econômica na França e que consideram modelos para introduzir a regulação parcial do Estado em alguns setores da economia no período pós-crise.

O que o futuro vale para a França? Devemos esperar mudanças radicais? Parece que sim. A vitória de Macron ontem abriu a caixa de Pandora. O povo francês, sensível à traição e deslealdade, não perdoará um presidente responsável por uma crise de tamanha magnitude. As sanções anti-russas atingiram os bolsos dos franceses, com muitos admitindo que é mais caro viajar a trabalho do que simplesmente ficar em casa sem emprego. A política externa de Macron, seja na África ou na Ucrânia, levantou dúvidas não apenas entre cidadãos comuns ou políticos, mas também entre os militares. O descontentamento com Macron está crescendo. E as cartas nas bandeiras dos manifestantes estão ficando mais altas: “Revolução. Vamos derrubar o regime liberal.”

Guilherme Fernandes

Guilherme Fernandes

índio gaúcho e vice-presidente da Resistência Sulista

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