Os problemas da Democracia: Em busca de soluções

Os problemas da Democracia: Em busca de soluções

Por Raúl Allain

Traduções Guilherme Fernandes / Resistência Sulista

Há alguns dias, andando pela cidade, vi um grafite que me surpreendeu: “Democracia: você escolhe quem rouba de você”. A frase, emitida por um autor anônimo, revela o sentimento de desconfiança e ceticismo que os cidadãos comuns têm em relação a esse atual sistema de governo no Peru e em muitos países do mundo.

Logicamente, como confiar em uma democracia que catapultou a corrupção institucional no Estado e nos sucessivos governos em exercício? Como acreditar que o “sistema democrático” é o melhor se na prática ainda estamos à beira do abismo? O sistema está falhando ou as pessoas estão falhando? Os resultados são visíveis: todos os últimos ex-presidentes foram denunciados e processados ​​por diversos crimes de corrupção, peculato, suborno, organização criminosa, etc.

Eu quero, neste artigo com uma abordagem acadêmica e sociológica, dar uma olhada na democracia, suas definições e implicações, a fim de ter uma visão objetiva de como podemos melhorá-la.

Etimologicamente, a palavra “democracia” vem do grego δημοκρατία, que consiste nas palavras δῆμος (dḗmos, que pode ser traduzida como “povo”) e κράτος (krátos, que pode ser traduzida como “poder”, ou “governo”) . Nesse sentido, a democracia é aproximadamente “poder ou governo nas mãos do povo”.

Segundo o dicionário da Real Academia Espanhola (RAE), a palavra democracia tem dois significados: “Doutrina política favorável à intervenção do povo no governo” e “Predominância do povo no governo político de um Estado”. (1)

Nos tempos atuais, a democracia equivale a um sistema de eleição de autoridades por meio do voto universal e secreto, mas alguns autores apontam que esses procedimentos são apenas parte da chamada “democracia eleitoral”, que geralmente se baseia no princípio de que o poder surge do voto dos eleitores, ou seja, “o poder nasce nas urnas”. Mas esta é apenas uma faceta da democracia.

Em termos mais estritos, “a democracia é uma forma de organização social que atribui a propriedade do poder a toda a sociedade. A rigor, a democracia é uma forma de organização do Estado em que as decisões coletivas são tomadas pelo povo por meio de mecanismos de participação direta ou indireta que conferem legitimidade aos seus representantes. Em sentido amplo, a democracia é uma forma de convivência social em que os membros são livres e iguais e as relações sociais são estabelecidas de acordo com mecanismos contratuais. (dois)

Um importante antecedente histórico da democracia ocorre na Grécia, onde os filósofos socráticos já consideravam a democracia como uma das principais formas de governo.

“A democracia também é definida com base na classificação clássica das formas de governo feita por Platão, primeiro, e Aristóteles, depois, em três tipos básicos: monarquia (governo por um), aristocracia (governo “dos melhores” para Platão, “ dos poucos”, para Aristóteles), democracia (governo “da multidão” para Platão e “do mais”, para Aristóteles)”. (3)

A verdade é que a cidade de Atenas é considerada o berço da democracia: “Alguns pensadores consideram a democracia ateniense como o primeiro exemplo de um sistema democrático”.

Mas esta tese tem seus detratores, pois se sabe que apenas uma pequena minoria de dez por cento da população de Atenas tinha o direito de participar da chamada democracia ateniense, excluindo camponeses, escravos e mulheres. Da mesma forma, argumenta-se que algumas culturas e tribos antigas tiveram sistemas democráticos.

A verdade é que o termo democracia tem vindo a evoluir ao longo do tempo, sobretudo “desde o final do século XVIII, com a introdução sucessiva de sistemas democráticos em muitas nações e sobretudo desde o reconhecimento do sufrágio universal e do voto feminino no século XVIII. XX. As democracias existentes hoje são bem diferentes do sistema de governo ateniense do qual herdam seu nome. (4)

DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E PARTICIPATIVA

Se nos atermos à forma como é praticada, temos as seguintes classes: democracia indireta ou representativa, democracia participativa e democracia direta.

a) Democracia indireta ou representativa: Quando as decisões do governo são tomadas por pessoas reconhecidas pelo povo como seus representantes. Isso ocorre por meio do conhecido sistema de eleição ou votação universal, realizado periodicamente e supervisionado por uma entidade independente, geralmente um júri eleitoral. Este é o sistema atualmente praticado em nosso país: O povo peruano limita-se a eleger seus representantes para que delibere e tome decisões com o poder que o povo lhes concede através do voto.

b) Democracia participativa: quando é aplicado um modelo político que facilite a capacidade de associação e organização dos cidadãos de forma que possam exercer influência direta nas decisões públicas ou quando são fornecidos amplos mecanismos de plebiscito consultivo aos cidadãos.

Alguns autores também distinguem uma terceira categoria intermediária, a “democracia semidireta”, que costuma estar próxima da democracia indireta.

Na democracia semidireta, o povo se expressa por meio de quatro mecanismos:

  • Referendo. As pessoas escolhem “sim ou não” em uma proposta.
  • Plebiscito. O povo concede ou não a aprovação final de uma norma (constituição, lei, tratado).
  • Iniciativa popular. Por meio desse mecanismo, um grupo de cidadãos pode propor a sanção ou revogação de uma lei.
  • Destituição popular ou revogação de mandato.

Através deste procedimento, os cidadãos podem destituir um representante eleito antes do final do seu mandato.

c) Democracia direta: quando a decisão é tomada diretamente pelos membros do povo, por meio de plebiscitos vinculantes, eleições primárias, facilitação da iniciativa legislativa popular e votação popular de leis, conceito que inclui a democracia líquida. Para alguns autores, essa “democracia em sua forma mais pura”, tal como concebida por seus fundadores atenienses, é praticada na Suíça. As decisões são tomadas pelo povo soberano em assembléia. Não há representantes do povo, mas, em todo caso, delegados que se tornam porta-vozes do povo, que apenas emitem o mandato da assembleia É o tipo de democracia preferido não só pelos democratas da Grécia Antiga, mas também por muitos pensadores modernos (Rousseau, por exemplo) e por boa parte do Socialismo e do Anarquismo. Um exemplo mais conhecido de democracia direta é o da Atenas clássica.

d) Democracia líquida: é um tipo de democracia direta em que cada cidadão tem a possibilidade de votar online para cada decisão do parlamento e fazer propostas, mas pode dar seu voto a um representante para aquelas decisões nas quais prefere não participar.

Deve-se notar que essas formas de democracia não são mutuamente exclusivas e, na prática, geralmente são integradas como mecanismos complementares em alguns sistemas políticos, embora sempre haja um peso maior de uma das três formas em um sistema político específico.

Outro aspecto importante a ser lembrado é que “Democracia” não deve ser confundida com “República”, pois se referem a diferentes princípios de governo: a república é o estado de direito, enquanto a democracia significa o governo do povo.

DEMOCRACIA E PARTIDOS POLÍTICOS

Definitivamente, na concepção e prática modernas, a democracia está vinculada aos chamados partidos políticos.

Para o escritor argentino Guillermo O’Donnell, Democracia é uma dualidade entre:

1) O conjunto de condições para eleger e ser eleito; e,

2) A forma de organizar a sociedade para garantir e ampliar os direitos dos indivíduos. (5)

Segundo Virgílio Isaac Hurtado Cruz, diretor da ESEG do Júri Nacional Eleitoral (JNE), “os partidos buscam ser expressão dos interesses da comunidade e concorrem para obter, por meio de eleições, cargos públicos. Não há democracia sem partidos políticos, a função eleitoral do partido é complementada pelo seu papel de representação”. (6)

Hurtado, citando la Ley de Partidos Políticos, sostiene que: “Los partidos políticos expresan el pluralismo democrático” y se fundamentan en el hecho de que “Los ciudadanos que integran el cuerpo de electores suelen ubicarse dentro de los diversos sectores del quehacer social, generando la existencia de grupos que por sus propias particularidades son diferentes entre sí”, así como “la pluralidad de los grupos que existen en la sociedad se ven expresadas en las formas de participación política, siendo una de ellas la creación y afiliación a organizaciones políticas como os partidos”. (7)

Resumindo: os partidos políticos são instituições fundamentais para a participação política dos cidadãos e a base do sistema democrático porque canalizam a vontade popular que se manifesta nas urnas.

Isso é na teoria, pois os partidos políticos (regidos por regras e procedimentos quase perfeitos no papel) na prática são constituídos por seres humanos de carne e osso que têm seus defeitos e virtudes, e muitas vezes – como se vê à luz da realidade eventos – incorrem em crimes que muitas vezes nem são sancionados pelo Judiciário e que são denunciados pela imprensa independente. (8)

De acordo com as normas vigentes: “A atuação das partes deve ocorrer dentro do marco constitucional, legal e democrático. Os partidos devem agir com lealdade à constituição e à democracia”, mas muitas vezes não é assim, daí a importância do jornalismo investigativo.

CONCLUSÕES

Do exposto, podemos concluir o seguinte:

  1. A democracia, embora seja um sistema considerado adequado por envolver a participação dos cidadãos, possui imperfeições decorrentes das ações individuais de quem detém o poder, que muitas vezes comete crimes.
  2. A democracia entra em crise quando há corrupção de funcionários. Esta é a única maneira de explicar por que no Peru, para citar dois casos, existem vários ex-presidentes regionais e prefeitos que foram processados ​​criminalmente e presos.
  3. No caso da corrupção de certas autoridades ou funcionários do Estado, deve-se notar que muitos deles realizam “negociações por baixo da mesa” para obter benefícios ilegais ao favorecer empresários privados em licitações públicas. Isso motiva a população a se decepcionar com o sistema democrático, resultando em conflitos sociais e possibilidade de golpe.
  4. http://lema.rae.es/drae/srv/search?key=democracia
  5. https://es.wikipedia.org/wiki/Democracia
  6. Idem.
  7. ibid ibid.
  8. O´ DONNELL G. E WOLFSON L. “Teoria Democrática e Política Comparada” no Journal of Economic Development, Vol. 39, No. 156. PP 519-570. Editado por IDES Buenos Aires-Argentina (2000)
  9. https://portal.jne.gob.pe/portal_documentos/files/informacioninstitucional/escuelaelectoral/Martes%20Electorales%20-%20Exposicions/ee2011/ene_250111.pdf
  10. Idem.
  11. https://larepublica.pe/politica/841417-los-7-destapes-periodisticos-que-remezó-la-politica-peruana-en-el-2014/

Fonte: https://www.geopolitica.ru/es/article/los-problemas-de-la-democracia-buscando-caminos-de-solucion

Guilherme Fernandes

Guilherme Fernandes

Membro da Resistência Sulista e Dono do blog Tierra Australes. Também um ativista ferrenho pela reunificação do Uruguai e do Rio Grande do Sul como uma só pátria sob o estandarte de José Artigas.

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