43 anos da Revolução Iraniana

Há exatos 43 anos, no dia 11 de fevereiro de 1979, a Revolução Iraniana chegou ao seu ápice: A monarquia corrupta do Xá Mohammad Reza Pahlavi era derrubada, dando início, assim, à República Islâmica do Irã.
Após a revolução o regime liderado pelos Aitolás se tornou alvo de inúmeras criticas e sanções das grandes potências ocidentais, é fato que o processo revolucionário iraniano foi um dos mais impactantes no mundo, com suas consequências visíveis até hoje, principalmente no campo da geopolítica contemporânea.
A rebeldia do povo iraniano derrotou de um mesmo golpe o despotismo monárquico e o imperialismo norte-americano. Poucos acontecimentos contemporâneos se podem comparar a este pela sua projeção internacional: A correlação de forças nesta insurreição provocou mudanças, o que equivale dizer que foi modificada a correlação de forças no Mundo, dificultando o caminho para o domínio ocidental no Oriente e a consolidação da hegemonia globalista em todo o mundo.
O motivo do Irã ser alvo do imperialismo norte-americano. Se dá pela sua localização geográfica e a sua riqueza petrolífera, obrigando o imperialismo a designá-lo como o país chave da área, e, portanto, a convertê-lo em gendarme dos seus vizinhos. Era talvez do ponto de vista dos Estados Unidos o mais importante dos seus gendarmes, a quem competia custodiar o Golfo Arábico, por onde passa a maior parte das exportações mundiais de petróleo.
A partir do golpe de Estado organizado pela CIA que derrubou, em 1953, o governo nacionalista de Mossadegh e repôs no trono Mohammed Reza Palehvi, estavam reunidas as condições para a realização do desígnio norte-americano.
Durante um quarto de século os Aitolás realizaram a conversão de uma colônia subdesenvolvida e atrasada – dependente, e um grande consumidor da indústria, da tecnologia e da cultura ocidental. Em uma potência dotada, não obstante, a sua antiga e rica cultura – do exército mais poderoso e moderno do Terceiro Mundo, fortemente industrializado, com sua própria tecnologia. Na época dos governos dos Xás seria em suma, o paradigma de um país periférico que mostraria um modelo de integração no sistema transnacional, como se não existisse uma contradição radical entre o capitalismo central e as nações dependentes.
No entanto, foi isso que se passou. Os sonhos de grandeza de Palehvi não se concretizaram. Mas criou-se um exército potentíssimo ao qual confiaram armas de incalculável valor para o imperialismo. E mais: esboçou-se toda a estratégia da área com base na presença norte-americana no Irã, como se acreditasse que o trono do pavão real seria eterno. Daí o significado que esta mudança revolucionária traz à política imperialista. Com a queda do Xá desaparece um aliado insubstituível, a quem Carter ofereceu a sua campanha dos “Direitos Humanos” em troca de subserviência.
E os Estados Unidos procuram com métodos semelhantes aos utilizados no Irã, sustentar os seus maiores aliados sobreviventes da região: o Egipto de Anwar Sadat e a Arábia Saudita do Rei Khaled. Não conseguirá deste modo poupar a vida destes regimes condenados à morte pelo povo, e pela História; o imperialismo é incapaz de utilizar outros métodos. Aliás, nada poderá preencher o vazio deixado pela monarquia persa. Encarar este assunto somente em relação ao jogo das grandes potências, como faz a imprensa “ocidental” é ver só um aspecto da mudança realizada.
Em primeiro lugar, há que ressaltar que mais um povo submetido livrou-se de uma monarquia corrupta e subserviente, a forma mais retrógrada de organização estatal, para implantar um sistema republicano. Ou seja, trata-se de uma mudança histórica por si mesma, verificada na região do mundo subdesenvolvido onde ainda subsiste um conjunto de monarquias ou principados (e era a coroa persa a mais poderosa entre todas). O exemplo iraniano é, pois, um vigoroso estímulo para as forças republicanas latentes.
Segundo: O novo Irã empreende o caminho da libertação econômica, ou seja, começa a luta contra a dependência. Trata-se de reorganizar toda uma economia até hoje associada ao capitalismo central. Isso significará a recuperação dos recursos naturais mediante nacionalizações, e a conservação dos mesmos.
Em relação ao sistema político, o procedimento anunciado consistirá em um referendum popular que propõe a consagração da República Islâmica, que foi já plebiscitada em gigantescas manifestações convocadas pelo movimento religioso.
Tratar-se-á de um modelo inédito, no qual haverá, provavelmente, alguns pontos de contato com o socialismo patriótico islâmico. Há, no entanto, quem critica que a nova instituição teocrática trouxe sérias restrições às liberdades sociais e democráticas.
Todavia, o que se viu foi uma maior sabedoria do povo iraniano e dos seus dirigentes, apresentando como resultado uma criação política, que tanto dissemina as tradições e a cultura nacional e a sharia, como consente a participação nas decisões das comunidades não iraniano-muçulmana que também conseguiram a libertação. Há muitos pontos de vista comuns, como também divergências significativas. Se as primeiras prevalecerem, dando continuidade à unidade, a reconstrução nacional estará assegurada.
É certo que o movimento religioso foi o componente principal da luta e que, em particular, o “ayatollah” Khomeini opôs-se desde o começo, com firmeza e coerência excepcionais, à dinastia Palehvi. Mas, por outro lado, essa oposição não teria sido possível sem a vigorosa participação do movimento operário, que foram os mais selváticamente golpeados pela repressão do Xá. Em consequência, a eles também foi reconhecida, não só a liberdade política, mas também a sua contribuição na dura reconstrução.
É nestes setores que foram selecionados os quadros revolucionários que preencheram os cargos técnicos para administrar o país no novo regime e concretizar as mudanças prometidas. Sem eles, o movimento religioso teria que valer-se dos quadros que serviram o Xá, que foram por sua vez formados na mentalidade do velho regime, e condicionaram ou desviaram toda a tentativa de mudança das estruturas. A unidade, por difícil que seja, é, pois, um requisito iniludível para a realização da Revolução Iraniana.
“Toda desgraça que acontece ao homem ou que a sociedade padece por culpa de seus capitalistas se deve à concupiscência e ao egoísmo.”
― Ruhollah Khomeini