Al-Andaluz: A Farsa do “Paraíso Multicultural” de Philippe Conrad

Por SLAKKOS ABONOS
Uma resenha da obra Al-Andaluz de Philippe Conrad, que é uma crítica à corrente historiográfica que se opõe aos Estados-Nações ocidentais e defende a islamização.
A obra Al-Andalus, A impostura do “paraíso multicultural” (2020) do historiador, presidente do Institut Iliade e antigo redator da Nouvelle Revue d’Histoire, Philippe Conrad, é uma crítica à vertente da historiografia contemporânea que busca reescrever a história da Espanha culpando esta nação e sua história de modo a deslegitimizá-la, e o faz através da distorção de fatos do passado, aí incluso a história da dominação islâmica sobre a Península Ibérica na Idade Média, camuflando, assim, a opressão e sugerindo que aquele fosse um modelo de civilização multicultural a ser seguido. Para tanto, Conrad lança luz sobre a Dhimma, o conjunto de leis através das quais os invasores islâmicos à partir do séc. 8 d.C. submeteram e oprimiram os habitantes não muçulmanos do Al-Andalus, ou seja, os nativos cristãos e os judeus.
O primeiro capítulo da obra ilustra os eventos históricos em torno da conquista e criação do Al-Andalus e da Reconquista pela população nativa, que culminou na fundação da Espanha. E o segundo aborda mais a fundo a Dhimma e a violenta e humilhante “convivência” imposta aos Dhimmis, como são chamados os não muçulmanos em todas as regiões do mundo submetidas por invasores oriundos deste conjunto de crenças. Consequência da Djihad, a Dhimma tem origem junto ao próprio Maomé, ou seja, no âmago do Islamismo, quando após a conquista de Medina, este ataca 3 tribos judaicas, massacrando uma delas quase que por completo, e foram os termos impostos a estas tribos os denominados Dhimmitude. Segundo o Islamismo, a Djihad é uma obrigação de instituição divina; o mundo se divide em dois: o Dar al-islam, o “território da paz” que é aquele já submetido, e o Dar al-harb, o “território da guerra” que é aquele aonde habitam todos e quaisquer povos não muçulmanos, e, cedo ou tarde, alvo da ira justificada pelo fanatismo intrínseco a este conjunto de crenças, bem como da ganância de seus líderes que têm em seu livro sagrado um amálgama de ideias insalubres a utilizar na lavagem cerebral que dá origem aos djihadistas.
Entre estas o Corão diz que: “a diminuição dos infiéis neste mundo é vista como uma obra pia e a percepção do tributo por suas cabeças que eles hão de pagar pessoalmente e sob humilhação é uma prescrição divina obrigatória”. Para Ibn Taymiyya, representante da escola hanbalita: “Deus repetiu esta obrigação de combater e glorificou a djihad […] aqueles que negligenciam de fazê-la, [deus] os tratou de hipócritas e covardes. […] A djihad é a melhor forma de serviço voluntário que o homem consagra a deus. Uma vez que a djihad é a uma instituição divina que tem por objetivo fazer triunfar a palavra de deus, quem quer que se oponha à realização deste objetivo será combatido, segundo a visão unânime dos muçulmanos. Os judeus, os cristão devem ser combatidos, assim como os zoroastristas, até que estes abracem o Islã e paguem a jizya [tributo] sem discriminação”.
É assim que na Dhima é permitido matar crianças, deficientes e mulheres, bem como reduzi-los à escravatura. Quanto aos homens é permitido executá-los, libertá-los, trocá-los por prisioneiros ou mediante resgate, bem como escravizá-los. Os vencidos podem também ser deportados para repovoar localidades aonde os invasores mulçumanos dizimaram outros povos vencidos. Nos Balcãs o Império Otomano tomava meninos de suas famílias para aliená-los e fazer destes soldados da djihad. No Al-Andalus o pagamento do tributo dava-se em espécie e por rebanho, na seguinte formalidade: o recebedor permanece sentado e o pagador de pé, em silêncio diante dele, a cabeça abaixada e os ombros curvados. O “infiel” deve pessoalmente pôr o pagamento na balança enquanto o recebedor o segura pela barba e bate em suas duas faces. É desnecessário dizer que aos submetidos era proibido portar armas, de fato, era até proibido portar suas roupas típicas, ficando estes obrigados a vestir-se na moda árabe, porém com tecidos rudimentares e certas peças em determinadas cores que os identificassem como pertencentes à classe dos dominados. É proibido aos dhimmis defenderem-se das agressões perpetradas por muçulmanos, aquele que erguesse a mão para defender-se tendo o punho decepado. Parte das igrejas e sinagogas são confiscadas e transformadas em mesquitas, e é proibido construírem-se novas.
No que tange à justiça, dhimmis não podem testemunhar diante de um tribunal muçulmano. Um muçulmano não pode receber a pena de morte por ter matado a um infiel, mas o infiel é condenado à morte pelo assassinato de um muçulmano. Quanto à penalidades físicas, “o sangue do dhimmis vale duas vezes menos que o de um muçulmano. No direito chafeíta, o do judeu e o do cristão valem o terço do de um muçulmano, o do zoroastrista e idólatra [aquele que cultua deuses outros que não Allah], vale um quinto”. A acusação de blasfêmia lançada contra um dhimmi também lhe vale a pena de morte, é também proibido possuir livros islâmicos, ter servos islâmicos, e o casamento ou relação com uma mulher muçulmana é igualmente punido com a morte para o casal.
No capítulo terceiro, o autor trata da aniquilação dos cristãos moçárabes, ou seja, os nativos da Península Ibérica, em sua maioria católicos romanos, que não se converteram ao Islamismo, ainda que tendo sido obrigados a adotar a língua e alguns costumes do invasor muçulmano. A situação dos cristãos se agrava partir do séc. 11 d.C. com a subida dos Almoravidas e Almoadas vindos do Marrocos, e mais uma vez em 1126 quando o rei Afonso 1º de Aragão inicia uma campanha de libertação, que obteve algum sucesso, libertando mais de 10.000 cristãos, mas não por completo. As regiões que permaneceram sob o julgo Almoravida viram então uma verdadeira diáspora cristã, uma vez expedida uma ordem condenando aos habitantes desta região. Dezenas de milhares de cristãos fogem em direção ao Norte da Península, e aqueles que não conseguem, têm seus bens confiscados, são presos, torturados e assassinados de formas atrozes, ou exilados na África través do Extreito de Gibraltar a menos que se convertessem ao Islã. Por fim, o fenômeno se repete em 1138 vindo a findar quase que completamente a existência de cristãos no território sob dominação islâmica.
Fica claro que a cultura islâmica é predatória a todas as demais, uma vez que destruiu culturas nativas desde a Ásia até a Península Ibérica e África. A Reconquista não foi somente um movimento legítimo de libertação dos habitantes milenares da Península, como uma vitória para a diversidade cultural no mundo. Negar este fato é ser cúmplice da destruição das identidades culturais que o Islamismo, como ideologia Universalista, perpetrou ao longo da história. Nas palavras de Conrad: “Esta exaltação cega e idealista de Al-Andalus não é apenas uma prova de desonestidade histórica e intelectual, é também, na situação atual da Espanha e do mundo, uma prova de irresponsabilidade, e possivelmente nós todos acabaremos por pagar um alto preço. Já pago, aliás, em boa parte dos países muçulmanos, onde em meio à indiferença geral, cristãos de diferentes confissões, bem como judeus, presos no cerco infernal que pressupõe a aplicação renovada da Dhimma. Hoje, mais do que nunca, diante do mito, a verdade se faz necessária.”
“Das duas uma, ou se converterão ou eles pagaram a jizya, se não, nós lhe faremos guerra”, Ibn Abî Zayd Al-Qayrawânî. A conclusão natural é a de que a djihad, bem como a Dhimmitude, se tratam antes de submeter, explorar, e apossar-se dos recursos de outros povos, dispondo de suas vidas, frequentemente com requintes de crueldade. Um projeto de poder fundamentado em um conjunto de crenças fanáticas, alienantes e criminosas que se pretende uma religião, e incapaz de corresponder ao anseio multicultural das ideologias laicas ocidentais. Fica também evidente que na Península Ibérica os invasores islâmicos, assim como em qualquer outro local do mundo e momento histórico, trataram aos povos de outras fés com intolerância, e que defender a imigração islâmica como forma de criar uma sociedade justa, seja por meio de produção acadêmica, seja por meio de produções artísticas e midiáticas, é uma hipocrisia dificilmente justificada por baixa capacidade cognitiva. Deixo aqui a reflexão, se não é este também um meio para as elites de determinados países do Ocidente, vendo no Islamismo uma massa de manobra a ser utilizada para submeter mais uma vez ao nativos de seus próprios países, que atingiram direitos e garantias consideradas excessivos e problemáticos para que estas mesmas elites possam se perpetuar no poder.